Cuadernos de Política Exterior Argentina (Nueva Época), 139, junio 2024, Pág. 227
ISSN 0326-7806 (edición impresa) - ISSN 1852-7213 (edición en línea)
Reseña
Miryam Colacrai y Gladys Lechini (comp.) (2023), Política exterior Argentina (2014-
2022). Continuidades, ajustes, cambios o reestructuraciones. Rosario, CERIR/UNR
Editora, 318pp.
Desde 1994 que o CERIR Centro de Estudios em Relaciones Internacionales de Rosario
vem publicando periodicamente coletâneas sobre a política externa argentina, formando uma
coleção que acompanha o tempo. As coletâneas contam majoritariamente com docentes da
Universidad Nacional de Rosario e/ou pesquisadores do CERIR, mas contam também com a
participação também de pesquisadores convidados. Recentemente, foi publicado VII Tomo,
compondo com os demais uma fonte de consulta necessária para aqueles que estudam ou se
interessam pela política externa argentina.
Dando sequência aos tomos anteriores, o objetivo de Política exterior Argentina (2014-2022).
Continuidades, ajustes, cambios o reestructuraciones é fazer um seguimento à política externa
e relações externas da Argentina, com vistas a proporcionar aos leitores um manual sobre o
tema. Seus principais atores e agendas externas são destacados fornecendo uma visão mais
abrangente da trajetória da política externa do país.
Em termos temporais, a coletânea abarca o final do governo de Cristina Fernández de
Kirchner, o governo de Maurício Macri completo e os dois primeiros anos do governo de
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Alberto Fernández. Esse período foi marcado por mudanças importantes nos cenários
internacional, regional e doméstico, sendo o último com duas alternâncias de partidos e
de governos, com visões de mundo diferentes, que por extensão tiveram impactos de
mudanças na política externa. Embora a maioria dos capítulos trate dos oito anos
contemplados no título, alguns deles têm o foco em um ou outro governo. Por ser o governo
cujo mandato se enquadra complemente no período, a política externa de Maurício Macri tem
presença mais marcante no livro.
Em termos teóricos os capítulos majoritariamente coincidem em destacar a importância dos
fatores domésticos como variáveis independentes e, particularmente, os impactos da
alternância de governos na política externa e nas relações exteriores. As variáveis sistêmicas
são contempladas em alguns capítulos com uma visão prioritariamente realista do cenário
internacional. A metodologia que norteia a obra é qualitativa; com pequenas variações, as
contribuições são prioritariamente de perfil descritivo, combinado com a análise dos
fenômenos. Muitos capítulos reiteram que a política externa, em termos gerais, é vista na
obra como uma política pública.
A coletânea conta com dezesseis capítulos e pode ser dividida em dois tipos de contribuição.
O primeiro deles diz respeito a reflexões e dados sobre política externa argentina e talvez
sobretudo as relações exteriores da Argentina, orientadas para parceiros externos específicos,
sejam eles países ou regiões, e dois capítulos que analisam a perspectiva argentina desde e
para o Mercosul. As últimas quatro contribuições tratam de temas precisos, como política de
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defesa, Questão Malvinas, cooperação em ciência e tecnologia e a inserção financeira
internacional do país.
O primeiro grupo de capítulos é composto por doze capítulos orientados para a política
externa frente a parceiros externos. Dentre os países e grupos de países na América Latina,
menos representados, a coletânea conta como abertura com um capítulo que versa sobre o
comportamento da Argentina frente a crises no Brasil, na Bolívia e na Venezuela, com um
capítulo sobre as relações da Argentina com o Chile e outro sobre o comportamento da
Argentina frente ao Mercosul. Dentre os países parceiros externos em outros continentes são
contempladas as relações da Argentina com Estados Unidos, China, Rússia e Índia. Em
termos de grupos de países, são contempladas as relações da Argentina e do Mercosul com a
União Europeia, da Argentina com os países do Oriente Médio, com os países do Golfo
Pérsico, e com os países africanos.
O primeiro capítulo, de Natalia Ceppi, María Elena Lorenzini y Gisela Pereyra Doval analisa
o comportamento do governo de Mauricio Macri frente a três crises políticas que tiveram
lugar na região; a saber, a crise do impeachment da presidente Dilma Rousseff no Brasil; a
crise de 2019 que resultou no afastamento de Evo Morales da presidência; a crise resultante
da deterioração das relações entre o governo de Nicolas Maduro e a oposição no país que
culminou com a reeleição de Nicolás Maduro para a presidência em 2018. Nos três casos, o
foco não é exaustivo, mas sim em uma abordagem pontual, expandindo-se para as relações da
Argentina de Macri e a Bolívia, de Evo Morales. Nos dois primeiros casos Macri adotou um
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comportamento pragmático enquanto que, no terceiro caso, a resposta do governo argentino
foi de perfil ideológico.
O capítulo sobre as relações da Argentina com Chile, de Myriam Colacrai, trata dos oito anos
de forma abrangente. Fornece um breve, e rico, relato sobre as políticas externas da
Argentina e da Chile, incluindo os governos de Cristina Fernández de Kirchner, Mauricio
Macri e Alberto Fernandez do lado argentino e Michelle Bachelet, Sebastián Piñera e o início
do de Gabriel Boric do lado do Chile. A autora também examina as agendas bilaterais entre
os dois países, nos cinco pares de presidentes, mostrando como nos três primeiros casos as
relações foram pragmáticas e não apontaram mudanças significativas, enquanto com os
governos de Fernández e Piñera, às diferenças no campo das preferências políticas, se somou
a crise da pandemia e seus impactos nas relações bilaterais. O texto aponta a densidade das
relações entre ambos durante o período.
O capítulo que se segue, de Hugo Ramos, abarca também os oito anos e os três governantes,
mas frente ao Mercosul. Para tanto, o autor combina elementos da análise de discursos e
dados quantitativos que reforçam seu argumento. O capítulo apresenta obstáculos para
avanços no bloco permeados, sobretudo, pela queda no intercâmbio comercial da Argentina
com os demais parceiros na primeira presidência e relativa estabilização no governo de
Macri. Destaca diferenças entre os três governos, passando de uma concepção
multidimensional nos governos de Cristina Fernández e de Alberto Fernández para o viés
comercialista de Mauricio Macri. Conclui com o governo de Alberto Fernández que assistiu
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uma desconstrução dos interesses comuns e, de novo, uma queda no comércio da Argentina
com os parceiros de bloco.
Abrindo o segundo grupo, de capítulos que examinam a política externa ou as relações da
Argentina para/com países grandes consolidados e/ou emergentes, Anabella Busso examina
as relações da Argentina com os Estados Unidos durante os oito anos contemplados no livro.
Para tanto, utiliza além dos fatores domésticos, fatores sistêmicos com foco o nas
preferências de política externa dos presidentes norte-americanos de turno. Em relação aos
fatores domésticos, ressalta as preferências em política externa dos três governos e as suas
estratégias de desenvolvimento. O texto destaca que o principal tema da agenda das relações
bilaterais durante o período foram a negociação pela Argentina da dívida soberana e, depois,
com o Fundo Monetário Internacional. O capítulo mostra o impacto dos fatores domésticos
nas relações da Argentina com os Estados Unidos e, de passagem, fornece o quadro
interessante das políticas externas dos três governos.
O capítulo sobre as relações da Argentina com a China apresenta um panorama dos oito anos
de interação entre os dois países, destacando com dados quantitativos a importância chinesa
nos investimentos em setores de bens de capital, no comércio externo e na cooperação no
setor de ciência e tecnologia. As relações, pautadas durante o período por uma associação
estratégica integral, são claramente marcadas por uma assimetria entre os dois países. Apesar
da forte dimensão pragmática das relações entre os dois países, Carla Oliva aponta algum
impacto das preferências dos presidentes nas relações entre ambos, tendo experimentado uma
pequena redução das iniciativas durante o governo de Mauricio Macri. O texto indica que o
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comércio, com exportações complementares, seguiu uma trajetória própria, cujo impacto
mais relevante não foi a alternância de governo, mas a pandemia da COVID 19.
Ricardo Torres analisa as relações da Argentina com a Rússia desde 2003 indicando que estas
privilegiaram o aspecto político, mais que o econômico. Se por um lado o autor indica os
limites do comércio bilateral e os esforços da Argentina para atrair capitais russos para
investimentos no setor de energia, por outro ressalta proximidade em diferentes momentos no
que diz respeito ao enfrentamento aos Estados Unidos. O segundo mandato de Cristina
Fernández foi o ponto mais alto das relações entre ambos. As iniciativas são reduzidas com o
governo de Mauricio Macri mas, também nesse caso, segundo o capítulo, o pragmatismo
prevalece. Com Alberto Fernández e a pandemia cresce a cooperação científica ente ambos.
A análise da interação entre Argentina e a União Europeia, proporcionada por María Vitoria
Álvarez e Marta Cabeza é o primeiro exemplo de relações entre a Argentina e um grupo de
países no período indicado no título. O capítulo incorpora duas dimensões das relações: da
Argentina com a União Europeia em seu conjunto e da Argentina com países membros na
dimensão bilateral. O capítulo indica o impacto das mudanças de governo nas relações da
Argentina com a União Europeia, passando do entrave do protecionismo argentino no final
do governo de Fernández de Kirchner, passando pela busca, de Mauricio Macri, de
aproximar-se dos países europeus como núcleo do Ocidente, e chegando a Alberto
Fernández, também preocupado com um viés protecionista. No geral, os êxitos das inciativas
de aproximação foram limitados, uma vez que, como em outros capítulos da coletânea, a
questão financeira se impôs sobre as demais.
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Saindo do foco nas relações da Argentina com parceiros externos, mas pensando na
Argentina dentro de uma iniciativa de integração regional, a obra de Roberto Falcón foca na
dimensão inter-regional: na interação entre o Mercosul e a União Europeia, tendo o acordo de
livre comércio entre ambos como seu principal instrumento. O capítulo descreve a trajetória
das negociações de 2016 até a assinatura do acordo em 2019, ressaltando seus obstáculos no
campo.
Por Miriam Gomes Saraiva. Universidade do Estado do Rio de Janeiro E-mail:
miriamsaraiva@uerj.br
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